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sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

No Dia da Pessoa com Deficiência Visual, especialista ressalta inclusão escolar como principal forma de garantir direitos

Desenvolver o ser humano por meio de inclusão. Essa é a principal forma para que pessoas com deficiência visual tenham uma vida considerada normal. A afirmação é da assessora de apoio à inclusão da Fundação Dorina Nowill para Cegos, Eliana Cunha. Que ressalta hoje, no Dia da Pessoa com Deficiência Visual, que a vida não acaba, mas se refaz. “Há dificuldades, mas a pessoa vai escrever a sua história e atingir as metas de uma outra forma. Nosso papel enquanto sociedade é garantir esses direitos para que todos tenham as mesmas oportunidades e garantias.”

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a deficiência mais frequente entre a população brasileira é a visual. Cerca de 35 milhões de pessoas (18,8%) declararam ter dificuldade de enxergar, mesmo com óculos ou lentes de contato.
Para cumprir com esse dever social, a assessora da Fundação Dorina se apoia nas instituições de ensino como principal forma de garantir o direito à educação, previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). “O espaço que mais precisa de investimento é o educacional em todos os níveis, desde a pré-escola até o nível universitário. Não se garante o direito ao estudo sem técnicas e maneiras corretas de educar e ensinar essas crianças e adolescentes.”
As maiores dificuldades para crianças deficientes visuais estão na aprendizagem. “O ser humano aprende observando, essa criança que não enxerga tem que receber ajuda específica de todas as pessoas à sua volta para mostrar o mundo através de sons e tato.” Em relação às diferenças entre crianças e adultos cegos, Eliana explica que um constrói um mundo sem a visão, enquanto o outro reconstrói. “As crianças precisam se desenvolver e aprender sem a visão. Já quem deixa de enxergar na fase adulta, lida com perda e readequação à sua maneira de ver sem os olhos.”
Concretizar na rotina escolar o que foi estabelecido por lei é um dos grandes desafios da atualidade. Com as políticas de inclusão estabelecidas recentemente, há maior procura das escolas para se prepararem e se adequarem. Porém, ainda há uma grande defasagem daquilo que é necessário em relação aos recursos disponíveis. “Na escola especificamente existe movimentação de busca por recursos humanos, de inclusão. Estamos longe de alcançar a devida inclusão de fato, mas já demos o primeiro passo.”
Acessibilidade e capacitação
Os depoimentos mais recorrentes de alunos com deficiência visual e de suas famílias baseiam-se na falta. Como ausência de qualificação por parte dos professores e falta ou insuficiência de materiais adaptados e acessíveis que possibilitem um desempenho escolar adequado. Outro ponto são os ambientes pouco permeados com atitudes que realmente favoreçam a verdadeira inclusão.
Ao mesmo tempo, relata Eliana, as declarações dos educadores são cada vez mais em tons de súplica de que não sabem o que fazer e como desempenhar seus papéis para contemplar a todos em sala de aula. “Não nos parece suficiente apenas a legislação e a ‘boa vontade’ para haver a verdadeira inclusão escolar. Cada educador e cada escola precisa buscar a capacitação e adaptações curriculares, adquirir material escolar acessível como parte fundamental do processo. A escola deve garantir um ambiente acolhedor, onde o respeito à dignidade do ser humano não seja apenas discutido, mas exercitado por toda a comunidade escolar.”
A assessora destaca ainda o sistema braille de escrita e leitura como fundamental para qualquer criança que não enxerga. “O braille é tão essencial como a caneta e o papel são para crianças que enxergam. Esse tipo de comunicação garante o processo de formação e desenvolvimento de conceitos.” Eliana afirma que uma pessoa que enxerga pode aprender o sistema braille em 20 horas de aula. “Então não é tão difícil assim o professor se adaptar”.
Novas tecnologias

Portáctil / Divulgação
Além dos livros, há novos recursos e tecnologias disponíveis como importantes meios de comunicação, que facilitam e aproximam as pessoas com deficiência visual. Softwares e aplicativos para tablets e smartphones vêm sendo adaptados e desenvolvidos nos últimos anos, desde leitores óticos que identificam produtos e preços em mercados, até um aplicativo que está sendo desenvolvido por pesquisadores e estudantes da Universidade de Stanford, com uma posição dinâmica das teclas, que seguirão os dedos dos usuários.
Em outubro de 2013, o Laboratório de Inovação Cientifica do Instituto Federal do Ceará apresentou o Portáctil, projeto que tem como slogan “O mundo em braille”. O equipamento cria a possibilidade de ler por meio do tato qualquer obra escrita. Basta que o usuário capture, por meio de um tablet, o que for ler e o sistema transfere o conteúdo para um navegador que tem três células braile e permite ao deficiente visual o entendimento do texto.
Outra forma de apoio vem de entidades como a Fundação Dorina, que oferece um aporte para que qualquer e todo tipo de pessoa possa ser orientada para que os espaços sejam inclusivos de fato. “Os recursos são importantes, mas a sensibilidade e as atitudes da sociedade é que vão garantir a inclusão”, reforça Eliana. 

13 de dezembro - dia nacional do cego.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Observatório da Imprensa debate ACESSIBILIDADE

Observatório da Imprensa discutiu falta de acessibilidade na Copa 2014 e Olimpíadas 2016


O Observatório da Imprensa da última terça-feira debateu a prevista falta de acessibilidade durante a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 e a falta de espaço dado pela mídia ao assunto. O país está construindo grandes estádios e instalações para esses eventos esportivos, mas não investe em acessos para os portadores de necessidades especiais.

Já foram aprovadas leis para facilitar a mobilidade dos deficientes, mas poucas são cumpridas. Além disso, os estrangeiros, que convivem com outra realidade em seus países, poderão enfrentar aqui dificuldades de acessos, transportes e comunicação.
Para os surdos, a novidade na comunicação foi a TV INES, pertencente ao Instituto Nacional de Educação para Surdos, com programação linear de 8h às 20h na webtv. Com seis meses no ar, eles já atingiram mais de 100 mil acessos. Já existe tecnologia de audiodescrição para TV digital e legislação específica, mas ainda com poucas horas na programação das TVs abertas.
Para debater o assunto, Alberto Dines contou com a participação da diretora geral do INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos), Solange Maria da Rocha; da apresentadora do Programa Especial da TV Brasil, Juliana Oliveira (cadeirante); e do repórter do Estadão Dados, Lucas de Abreu Maia (deficiente visual).
Assista ao programa:



Este vídeo poderá ser usado nas salas de aula, bem como em reuniões com familiares das pessoas com deficiência visual e com os funcionários da escola no sentido de conscientizar a necessidade que a sociedade tem de estar acessível a todas as pessoas, em todos os momentos da vida. Acredito eu que as escolas tem que sairem do seu mundo isolado e partirem para abertura para o outro, debatendo com todos os que a fazem e procurando meios para    encontrar soluções possiveis para as Deficiências.
Fonte: http://www.blogdaaudiodescricao.com.br/2013/12/observatorio-da-iImprensa-falta-acessibilidade-copa-olimpiadas.html - acessado em 04/12/2013.

Ensaio sobre a Cegueira.


ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA

José Saramago

O disco amarelo iluminou-se. Dois dos automóveis da frente aceleraram antes que o sinal vermelho aparecesse. Na passadeira de peões surgiu o desenho do homem verde. A gente que esperava começou a atravessar a rua pisando as faixas brancas pintadas na capa negra do asfalto, não há nada que menos se pareça com uma zebra, porém assim lhe chamam. Os automobilistas, impacientes, com o pé no pedal da embreagem, mantinham em tensão os carros, avançando, recuando, como cavalos nervosos que sentissem vir no ar a chibata. Os peões já acabaram de passar, mas o sinal de caminho livre para os carros vai tardar ainda alguns segundos, há quem sustente que esta demora, aparentemente tão insignificante, se a multiplicarmos pelos milhares de semáforos existentes na cidade e pelas mudanças sucessivas das três cores de cada um, é uma das causas mais consideráveis dos engorgitamentos da circulação automóvel, ou engarrafamentos, se quisermos usar o termo corrente. O sinal verde acendeu-se enfim, bruscamente os carros arrancaram, mas logo se notou que não tinham arrancado todos por igual. O primeiro da fila do meio está parado, deve haver ali um problema mecanico qualquer, o acelerador solto, a alavanca da caixa de velocidades que se encravou, ou uma avaria do sistema hidráulico, blocagem dos travões, falha do circuito eléctrico, se é que não se lhe acabou simplesmente a gasolina, não seria a primeira vez que se dava o caso. O novo ajuntamento de peões que está a formar-se nos passeios vê o condutor do automóvel imobilizado a esbracejar por trás do pára-brisas, enquanto os carros atrás dele buzinam frenéticos. Alguns condutores já saltaram para a rua, dispostos a empurrar o automóvel empanado para onde não fique a estorvar o transito, batem furiosamente nos vidros fechados, o homem que está lá dentro vira a cabeça para eles, a um lado, a outro, vê-se que grita qualquer coisa, pelos movimentos da boca percebe-se que repete uma palavra, uma não, duas, assim é realmente, consoante se vai ficar a saber quando alguém, enfim, conseguir abrir uma porta, Estou cego. Ninguém o diria. Apreciados como neste momento é possível, apenas de relance, os olhos do homem parecem sãos, a íris apresenta-se nítida, luminosa, a esclerótica branca, compacta como porcelana. As pálpebras arregaladas, a pele crispada da cara, as sobrancelhas de repente revoltas, tudo isso, qualquer o pode verificar, é que se descompôs pela angústia. Num movimento rápido, o que estava à vista desapareceu atrás dos punhos fechados do homem, como se ele ainda quisesse reter no interior do cérebro a última imagem recolhida, uma luz vermelha, redonda, num semáforo. Estou cego, estou cego, repetia com desespero enquanto o ajudavam a sair do carro, e as lágrimas, rompendo, tornaram mais brilhantes os olhos que ele dizia estarem mortos. Isso passa, vai ver que isso passa, às vezes são nervos, disse uma mulher. O semáforo já tinha mudado de cor, alguns transeuntes curiosos aproximavam-se do grupo, e os condutores lá de trás, que não sabiam o que estava a acontecer, protestavam contra o que julgavam ser um acidente de transito vulgar, farol partido, guarda-lamas amolgado, nada que justificasse a confusão, Chamem a polícia, gritavam, tirem daí essa lata. O cego implorava, Por favor, alguém que me leve a casa. A mulher que falara de nervos foi de opinião que se devia chamar uma ambulancia, transportar o pobrezinho ao hospital, mas 0 cego disse que isso não, não queria tanto, só pedia que 0 encaminhassem até à porta do prédio onde morava, Fica aqui muito perto, seria um grande favor que me faziam. E o carro, perguntou uma voz. Outra voz respondeu, A chave está no sítio, põe-se em cima do passeio. Não é preciso, interveio uma terceira voz, eu tomo conta do carro e acompanho este senhor a casa. Ouviram-se murmúrios de aprovação. O cego sentiu que o tomavam pelo braço, Venha, venha comigo, dizialhe a mesma voz. Ajudaram-no a sentar-se no lugar ao lado do condutor, puseramlhe o cinto de segurança, Não vejo, não vejo, murmurava entre o choro, Diga-me onde mora, pediu o outro. Pelas janelas do carro espreitavam caras vorazes, gulosas da novidade. O cego ergueu as mãos diante dos olhos, moveu-as, Nada, é como se estivesse no meio de um nevoeiro, é como se tivesse caído num mar de Mas a cegueira não é assim, disse o outro, a cegueira dizem que é negra, Pois eu vejo tudo branco, Se calhar a mulherzinha tinha razão, pode ser coisa de nervos, os nervos são o diabo, Eu bem sei o que é, uma desgraça, sim, uma desgraça, Diga-me onde mora, por favor, ao mesmo tempo ouviu-se o arranque do motor. Balbuciando, como se a falta de visão lhe tivesse enfraquecido a memória, o cego deu uma direcção, depois disse, Não sei como lhe hei-de agradecer, e o outro respondeu, Ora, não tem importancia, hoje por si, amanhã por mim, não sabemos para o que estamos guardados, Tem razão, quem me diria, quando saí de casa esta manhã, que estava para me acontecer uma fatalidade como esta. Estranhou que continuassem parados, Por que é que não andamos, perguntou, O sinal está no vermelho, respondeu o outro, Ah, fez o cego, e pôs-se a chorar outra vez. A partir de agora deixara de poder saber quando o sinal estava vermelho.

Fonte: SARAMAGO, JOSÉ. Ensaio sobre a Cegueira. 6ª ed. São Paulo: Cia das Letras, 1995. 312 p


Este vídeo poderá ser usado nas reuniões e formações pedagógicas com os professores, demais funcionários da escola e familiares das pessoas com Deficiência Visual, para a sensibilização e colaboração quanto a necessidade de o outro estar a ajudar, orientar e se dispor na realização das atividades da Vida Diária (AVD).

Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=bLt5he9dxaY&hd=1 - Acessado em 03/12/2013.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Que possamos refletir sobre o que fizemos a cada ano e o que ainda poderemos fazer neste Dia Internacional das Pessoas com Deficiências.

Que neste dia Internacional das Pessoas com deficiência, possamos refletir sobre os temas que já vem sendo trabalhados e pensemos o que fizemos a cada ano para a concretização deles, lembrando que ainda podemos fazer muito.
2013:“Quebrar barreiras, abrir portas: por uma sociedade e desenvolvimento inclusivos para todos”.
2012: “Removendo barreiras para criar uma sociedade Inclusiva e Acessível para todos”.
2011: “Plena Participação e Igualdade”
2010: “Mantendo a promessa: integrando a deficiência nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio”.
2009: “Capacitar as Pessoas com Deficiência e as suas Comunidades”
2008: "Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiências: dignidade e justiça para todos nós"
2007: “Trabalho Decente para Pessoas com Deficiência”
2006: “ciber- acessibilidade”
2005: "Direitos das pessoas com deficiência: Ação em Desenvolvimento"
2004: "Nada sobre nós sem nós"
2003: "Uma voz nossa"
2002: "Vida autônoma e existência sustentável"
2001: "Participação plena e igualdade: A chamada para novas abordagens para avaliar progresso e resultados."
2000: "Fazendo tecnologias da informação funcionar para todos"
1999: "Accessibilidade para todos em um novo milênio"
1998: "Arte, cultura e vida autônoma"

Que um dia a sociedade seja mais justa.

03/12 - Dia Internacional das Pessoas com Deficiência.

dia internacional das pessoas com deficiência (3 de dezembro) é uma data comemorativa internacional promovida pelas Nações Unidas desde 1998, com o objetivo de promover uma maior compreensão dos assuntos concernentes à deficiência e para mobilizar a defesa da dignidade, dos direitos e o bem estar das pessoas. Procura também aumentar a consciência dos benefícios trazidos pela integração das pessoas com deficiência em cada aspecto da vida política, social, econômica e cultural. A cada ano o tema deste dia é baseado no objetivo do exercício pleno dos direitos humanos e da participação na sociedade, estabelecido pelo Programa Mundial de Ação a respeito das pessoas com deficiência, adotado pela Assembleia Geral da ONU em 1982.